terça-feira, dezembro 28, 2010

Ora aí se aproxima a noite em que convencionamos que mudava o ano, motivo tradicional para balanço…

2010 foi um ano importante. Importante porque nos confrontamos com vários factos, que apesar de serem há muito uma evidência teimávamos em não dar conta deles. O primeiro é que o País – e não só o Estado – está falido, uma insolvência de que somos culpados por nos termos endividado muito mais do que deveríamos e não cuidarmos em aproveitar o que temos para gerar riqueza consistente e susceptível de justa partilha, o que é quase criminoso quando – apesar do que dizem – somos um País com vastos recursos naturais (mar, rios, terra disponível, sol, vento, paisagens belíssimas, costa marítima, clima ameno, uma invejável situação geográfica, etc., etc.) e há tantos e tantos países que não passam de desertos mais ou menos disfarçados ou de imensos lodaçais facilmente transformados em enxurradas. A acrescentar a este desperdício de recursos demo-nos ao luxo de desaproveitar o mais importante: as pessoas. Somos gente trabalhadora, com uma capacidade enorme de adaptação às situações mais adversas e cada vez mais preparada técnica e intelectualmente mas que se deixou convencer que é preferível ser subsidiada e sustentada do que ganhar o pão com o suor do seu rosto.
O segundo desses factos é que a maioria daqueles que nos representam não prestam e são o exacto reflexo do nosso desleixo cívico e da nossa capacidade de assobiar para o lado.
O terceiro facto, assenta na evidência de que a quimera da União Europeia foi “chão que deu uvas” e que ainda por cima nos desmantelou o primário e o secundário nos transformou em pedintes ramelosos por tudo quanto é ditadura.
Pode ser que este mau ano de 2011 seja a lição que nos fazia falta...os nossos quase 900 anos, de vez em quando, precisam de um abanãozito...

domingo, dezembro 12, 2010

Serviço público televisivo e radiofónico versus interesse público - a inevitável mudança de paradigma

Eu considero importante que o Estado Democrático garanta que a comunicação social preste serviço público quer através da televisão quer a através da Rádio, dito por outras palavras considero ser de “interesse público” que seja assegurado um “serviço público” de comunicação social.
O que eu já não considero correcto é que seja o Estado Democrático a prestar esse serviço público de forma directa, que se tem, aliás, traduzido em coisas muito duvidosas. Será que a RTP e a RDP prestam um “serviço público” ou limitam-se a fazer melhor ou pior que as demais estações televisivas de televisão e rádio fazem? Eu não acho que prestem qualquer serviço público e além do mais competem em condições privilegiadas com as demais empresas. Condições privilegiadas porque absorvem parte importante do reduzido mercado publicitário e fazem-nos subsidiadas por todos nós, quer via taxas quer via transferências do OGE.
Ao não prestar um serviço público o Estado além de não salvaguardar o interesse público ainda o onera ao operar em condições de privilégio de mercado.
Por outro lado, quer a RTP quer a RDP, apesar de todas as ajudas, são empresas tecnicamente falidas, o que indicia, além de outras coisas, uma péssima gestão.
Na minha opinião o Estado Democrático deveria privatizar a RTP e a RDP e aproveitar o encaixe financeiro para salvaguardar o interesse público ao nível da comunicação social. Como é que isso seria feito? De uma forma muito simples: o Estado Democrático deveria definir um conjunto diversificado de programas – quer quanto a conteúdos quer quanto a tipologias – que gostaria de ver tele e rádio difundidos (programas formativos, teatro, música e dança portuguesa, divulgação cultural e científica, etc., etc.) . Depois de definidos esses programas ou temáticas deveria abrir um concurso público em que todas as empresas privadas de televisão e de rádio poderiam fazer concorrer programas seus que correspondessem às tipologias e conteúdos definidas como de interesse público pelo Estado e quem ganhasse veria esses mesmos programas apoiados pelo Estado nos seus custos de produção. Poupar-se-ia assim milhões e milhões de euros e o interesse público seria salvaguardado na medida que as empresas privadas prestariam o tal serviço público.

sábado, dezembro 04, 2010

Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa

Eu que dos “ses” só gosto do “If” do Kipling não gosto nada dos exercício do género “como seria isto ou aquilo SE…”, como muita gente teima hoje em fazer em relação à eventualidade de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa não terem perecido e quais seriam as alterações que tal circunstância teriam provocado na evolução e na situação actual do País.
Como as coisas teriam acontecido e como estariam hoje ninguém o poderá saber. O que sabemos, com toda a certeza, é o que foi e o que é.
O que é justo dizer sobre esses dois homens é que eram corajosos, inteligentes, cultos, que possuíam uma “Ideia” para Portugal e que fizeram ambos falta. Muita falta.
Importa também salientar que é uma vergonha não se assumir – e os indícios são mais do que suficientes – que foram vítimas de um atentado, e retirar disso mesmo todas as consequências.

terça-feira, novembro 30, 2010

Portugal, Euro e UE

Quando alguém em Portugal se atreve a questionar a nossa manutenção no Euro e até mesmo nesta União Europeia completamente pervertida em relação aos seus objectivos iniciais, é olhado como um demente ou como um herético perigoso.
Por outro lado a saída de Portugal da moeda única ou da organização é comparada a uma espécie de albanização do País.
Afirmar tal disparate é confessar que nada se percebe nem de História nem da percepção do presente.
O Euro é hoje para Portugal efectivamente perniciosos e as suas vantagens, que sempre foram poucas são cada vez mais residuais.
A União Europeia está a ser reconfigurada numa mera união económica e financeira ao sabor dos mercados internos mais fortes e tal realidade é um problema de difícil solução para Portugal.
Quanto à comparação com a Albânia é preciso, antes de tudo mais, perceber que Portugal é uma democracia. A Albânia não o era. Em Portugal existem propriedade privada e partidos políticos, além de que os contextos históricos, sociais e económicos são completamente diferentes dos da Guerra Fria.
O que eu gostaria de ver era um estudo sério, levado a cabo pela Universidade Portuguesa, sobre as reais consequências da saída de Portugal do Euro e até mesmo da EU.
Sem esse estudo tudo o quanto se afirme em relação a essa a matéria não passa de “treta”.

sábado, novembro 06, 2010

Primeiras impressões sobre Vilnius

Vilnius…uma pequena jóia de um barroco tardio e suave guardada numa das ilhargas do Báltico. Com as suas ruas limpíssimas como a querer limpar as pegadas empapadas em sangue da Gestapo e do KGB. Vilnius…uma cidade cultora dos pequenos restaurantes, cafés e bares que proporcionam as boas e sossegadas conversas ao redor de lareiras imaginárias. Vilnius…dois rios que serpenteiam em abraços constantes às colinas amenas onde se fez e refez a cidade. Vilnius…uma urbe que sobreviveu ao testemunho de uma Europa violenta, racista e matadora. Uma Europa das utopias de todas as maldades. Vilnius…uma cidade que quer ser um ponto de exclamação entre reticências…reticências da eurocracia, reticências do pan-eslavismo russo, reticências do USDolar fácil que compra barato tudo aquilo que não tem preço…

quinta-feira, outubro 21, 2010

As razões pelas quais não comentarei mais sobre a candidatura de Fernando Nobre

As razões que me levaram, em Setembro passado, a afastar-me da candidatura foram estritamente políticas: assentavam no facto de Fernando Nobre não ter qualquer projecto político consistente, ter um profundo desconhecimento do ordenamento constitucional português, ser portador de um discurso político errático e elaborado ao mero sabor das circunstâncias e que foi “convencido” a partir para esta aventura pelo Dr. Mário Soares que viu nele um instrumento de desgaste da candidatura de Manuel Alegre, além do mais, percebi que Fernando Nobre constituiu um “inner circle” completamente impreparado para o desenvolvimento e gestão de uma campanha eleitoral, composto por indivíduos, na sua maioria, dissidentes do Partido Comunista Português, portadores do pior que existe em termos da escola e cartilha estalinista, facto que os levou a proceder a expulsões e purgas em relação a todos que, por uma razão ou por outra, manifestaram discordância sobre a forma como a pré-campanha decorre, atropelos que são, por inteiro e por repetidas afirmações do mesmo, da responsabilidade do próprio Fernando Nobre.
Os recentes desenvolvimentos do Porto – que se traduziram na expulsão de vários voluntários da organização de campanha e no absurdo da expulsão de quem já tinha saído – comprovaram, infelizmente, tudo o quanto eu já pensava da aventura ridícula que é esta candidatura.
O que se está a verificar agora é um clássico da irresponsabilidade política e cívica: os algozes, os censores, os expurgadores pretendem, à viva força, transformarem-se em vítimas.
Percebi que continuar a denunciar todas estas lamentáveis situações era o melhor que poderia acontecer, nesta fase, a Fernando Nobre: fazer dele uma vítima.
Ora Fernando Nobre não é a vítima. Fernando Nobre é o culpado. O culpado de se ter auto-destruído e culpado por permitir que com o seu consentimento expresso se atentasse contra o mais elementar dos direitos democráticos: o direito à liberdade de expressão.
Não vou mais contribuir para a auto-martirização de alguém que obviamente está perturbado.
O meu caminho de vida consistiu sempre em estar ligado a energias de construção e portanto não vou agora dedicar-me a actividades que correm o risco de aportar notoriedade a algo que é absolutamente irrelevante e socialmente destrutivo.
Assim sendo, para não querer ser cúmplice da edificação paulatina de um mártir e também pelo sentimento de piedade pela triste figura de alguém que poderia ser grande e tão rapidamente se apoucou, não farei mais nenhum comentário sobre algo que já pertence ao meu passado e ao capítulo das desilusões tardias, independentemente de me reservar o direito de agir noutros palcos e em distintos contextos se de tal sentir necessidade.

terça-feira, outubro 19, 2010

A Candidatura de Fernando Nobre: um acto falhado ou um logro cívico?

A candidatura de Fernando Nobre surgiu perante a sociedade portuguesa como uma lufada de ar fresco perante as demais candidaturas presidenciais que estão todas – umas mais do que outras – inquinadas por lógicas meramente partidárias.
Fernando Nobre tem um percurso de vida dedicada ao serviço público em situações de emergência social o que o tornaria capaz de corresponder ao Presidente da República que Portugal precisa no momento dificílimo que atravessa.
Por essas razões é que aceitei, em Março passado, o seu convite para integrar a sua candidatura como membro da Comissão Política Nacional (órgão que nunca reuniu).
Esse facto permitiu-me acompanhar de perto toda a pré-campanha e as várias iniciativas do candidato.
No entanto – e à medida que o tempo passou – cheguei à seguinte conclusão: Fernando Nobre não tem qualquer projecto político consistente, tem um profundo desconhecimento do ordenamento constitucional português, é portador de um discurso político errático e elaborado ao mero sabor das circunstâncias e que foi “convencido” a partir para esta aventura pelo Dr. Mário Soares que viu nele um instrumento de desgaste da candidatura de Manuel Alegre.
Além do mais, percebi que Fernando Nobre constituiu um “inner circle” completamente impreparado para o desenvolvimento e gestão de uma campanha eleitoral, composto por indivíduos, na sua maioria, dissidentes do Partido Comunista Português, portadores do pior que existe em termos da escola e cartilha estalinista, facto que os levou a proceder a expulsões e purgas em relação a todos que, por uma razão ou por outra, manifestaram discordância sobre a forma como a pré-campanha decorre, atropelos que são, por inteiro – nem que seja por omissão – da responsabilidade do candidato.
Por todas estas razões, em Setembro, e através de comunicação ao próprio candidato, afastei-me da sua candidatura.
Considero hoje que Fernando Nobre prestou um péssimo serviço aos movimentos cívicos de intervenção política ao ter sido gerador de uma enorme esperança que a sua atitude defraudou.
A sua “performance” enquanto candidato tem sido de tal maneira caótica que o próprio Dr. Mário Soares se afastou – afastamento traduzido pelos vários elogios que tem feito a Cavaco Silva – sinal evidente que já percebeu que Fernando Nobre nem para “irritar” Manuel Alegre tem condições – basta ver o seu contínuo descalabro nas sondagens.
Por outro lado a sua persistência em manter-se, nesta altura dos acontecimentos, ligado à AMI – misturando de forma habilidosa iniciativas da dita com iniciativas de campanha - é absolutamente incompreensível e capaz de provocar danos irreversíveis à própria instituição.
Tomei conhecimento que na última reunião da sua Comissão Política Distrital do Porto – o documento comprovativo já circula nas redes sociais – foi apresentada uma proposta, apresentada pelo Director Nacional de Campanha (cuja a experiência nestas “andanças”, ao que parece, resulta do facto de ter sido em tempos idos responsável logístico por um dos antigos espaços MASP) de expulsão da candidatura de vários cidadãos que manifestaram publicamente discordâncias, chegando ao cúmulo que nem o mais rígido e obsoleto dos partidos estalinistas existentes se lembrou: expulsar quem já tinha saído.
Fernando Nobre ao permitir por parte dos seus homens de mão estas atitudes acrescenta à sua incapacidade política, perigosos tiques de ditador, revelando-se muito mais uma espécie de caudilho demagógico do que um líder de um movimento cívico fundado e assente na sagrada Liberdade.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Juizes, sindicatos e soberania

Só num País em que o Poder é fraco e portanto permeável a todos os demais poderes é que titulares de órgãos de soberania possuem organizações sindicais. É mais um aborto deste nosso Estado que não é um verdadeiro Estado de Direito mas sim um Estado de Direitos. Direitos que se usufruem à custa da Democracia e à custa da credibilidade das instituições.
Não é admissível que os Juízes sejam em simultâneo titulares de órgãos de soberania e funcionários. Se são funcionários podem ter sindicatos e serem sindicalizados, se são titulares de órgãos de soberania não podem nem devem ter sindicatos ou sindicalizarem-se.
Os Juízes não podem à segunda, à quarta e à sexta usufruírem das prerrogativas concedidas a titulares de órgãos de soberania e às terças e quintas andarem a reivindicarem aumentos e a vociferarem contra perda de subsídios.
Por outro lado, tendo em conta o facto de serem o únicos titulares órgão de soberania cuja legitimidade não advém do voto dos cidadãos (o que também não é muito aceitável, mas é o que temos do ponto de vista do ordenamento constitucional), que o controlo e fiscalização que é efectuado à sua actividade é feita por eles próprios, em lógica de corporação, e o actual estado da Justiça com a quantidade de erros jurídico-processuais cometidos e atrasos seria bom que fossem muito mais humildes naquilo que pedem ao Povo.

sábado, outubro 16, 2010

Os Portugueses e os sacrifícios

Os Portugueses quase desde a fundação do País que fazem sacrifícios e fazê-los não tem sido, historicamente, causa de revoltas. Os Portugueses só se revoltam contra os sacrifícios injustos e inconsequentes.
Os sacrifícios que são hoje exigidos aos Portugueses cabem nessa categoria. São sacrifícios injustos e inconsequentes porque penalizam os mais cumpridores e não significam mais do que a manutenção de um jogo impossível de ganhar.
Os Portugueses sentem que sem uma reforma profunda do sistema político, que devolva utilidade social às instituições e que promova a responsabilização total da sociedade – e não apenas dos decisores – e que contribua para que cada dever tenha sentido perante cada direito, não medidas de contenção que resolverão o essencial: acreditar e vencer.
Portugal precisa de verdade e de coragem política e precisa de homens e mulheres portadoras do conhecimento que possibilita a competência à frente do seu destino. Para isso é necessário que os Portugueses efectivamente possam escolher os melhores. Para que os Portugueses possam poder escolher os melhores é preciso reformar o sistema político. Sem essa reforma a Democracia – que em muitos aspectos já é apenas formal – não sobrevivirá…nem Portugal enquanto País que é justificável e se justifica.

terça-feira, outubro 12, 2010

Antes nenhum OGE que um mau OGE

A razão pela qual se tornou alegadamente obrigatório que o PSD viabiliza o OGE prende-se com o eventual perigo dos mercados canibalizarem a dívida soberana, o FMI – a mando da senhora Merkel – começar a intervir nas Finanças Portuguesas e o a hipótese de Portugal ser convidado a sair da zona Euro.
Nenhum destes argumentos me convence. Os mercados há muito que canibalizaram a dívida soberana, o FMI não precisa de entrar por já cá está e a saída de Portugal – e de outros Estados na mesma situação – significaria o fim do Euro, algo que não dá jeito nenhum à Alemanha.
Depois, e por outro lado, mesmo com o OGE aprovado é evidente que o mesmo teria uma validade muito curta: a seguir a Janeiro já se sabe que vai haver eleições legislativas, o que implicará mudanças estruturais profundas.
Porque razão, então, é que anda muita gente a querer condicionar o PSD?
São várias as razões, das quais destacarei apenas algumas:
1.Cavaco Silva não quer esse problema em campanha eleitoral e precisa de aparecer como o conciliador
2.Sócrates pretende que o PSD seja cúmplice das medidas de austeridade, de forma a poder cercear-lhe o discurso político
3.A oposição interna do PSD quer, “as always”, fragilizar o líder e retirar-lhe margem de manobra.
Tendo em conta as medidas já anunciadas pelo governo – medidas que conduzirão à falência da economia e à instabilidade social violenta – o que já se sabe da proposta do PS é que o futuro OGE será mau.
O PSD se o viabilizar será inexoravelmente cúmplice de um mau OGE.
É preferível nenhum orçamento a um mau orçamento e eleições vamos tê-las com ou sem orçamento.

sábado, outubro 09, 2010

A morte na praia de uma candidatura de esperança

De Julho a Outubro Fernando Nobre perdeu mais de 40% das intenções de voto, passando de 9% para 4,9%, segundo a última sondagem da TVI.
Sondagens são sondagens, mas valendo o que valem sempre servem para alguma coisa.
Esta “performance” de Fernando Nobre não me espanta e a culpa desta triste realidade não recai sobre os seus entusiásticos apoiantes, mas sim sobre ele próprio e sobre a “gente” que dirige a campanha, que até parece que está a ser conduzida, deliberadamente, para uma prematura “morte na praia”. A situação é tão dramática que até o Dr. Soares já “descolou” da candidatura e elogia, sempre que pode, Cavaco Silva.
Fernando Nobre, por causa da sua teimosia, surdez e cegueira política, que faz com que não escute ninguém a não ser ele próprio e a sua entourage chegada, em que o principal responsável é o Director de Campanha (que no currículo, ao que parece, tem como mais relevante a gestão de um dos muitos espaços MASP), está a desbaratar todo o seu potencial político e – muito mais grave do que isso – está a arruinar as esperanças de muitos bons cidadãos que nele confiaram, o que é quase um crime de cidadania.
Fernando Nobre revelou-se uma enorme desilusão e a forma como está a dirigir a sua campanha é absolutamente trágica, embora isso seja um facto muito menos dramático do que é a verdadeira tragédia de muitas e muitas esperanças defraudadas.
Se Fernando Nobre quer – e eu duvido que queira – alterar o triste status quo da sua candidatura, vai ter que mudar, mas mudar mesmo muito e desconfio que já vai tarde.

terça-feira, outubro 05, 2010

Se eu fosse candidato presidencial independente (surgido fora da entourage partidária) o que eu diria aos portugueses* ( :))

Se eu fosse candidato presidencial independente (surgido fora da entourage partidária) o que eu diria aos portugueses*
Se eu fosse candidato à Presidência da República com o firme objectivo de contribuir para a regeneração do sistema político (e não a sua destruição) para que o Regime (a Democracia) possa sobreviver com saúde, não me deixaria enredar em ataques aos meus adversários, não carpiria mágoas por falta de atenção da comunicação social nem gastaria o meu tempo em comparar as minhas circunstâncias com as circunstâncias de candidatos apoiados, clara ou encapotadamente, por máquinas partidárias.
Eu, se fosse candidato, diria aos portugueses ao que ia.
E diria o seguinte:
Como se tornou claro para todos e insustentável para Portugal o nosso sistema político esgotou-se enquanto instrumento de funcionamento e melhoria da nossa Democracia. O nosso sistema político, que funcionou bem durante os primeiros anos do Regime, hoje é, infelizmente, um entrave e campo fértil para o confronto permanente de vários poderes de Pirro. Em simultâneo, o seu sistemático falhanço, transformou as principais instituições do Estado em fonte de descrédito público. Hoje instituições como o Parlamento, o Governo e os Tribunais são consideradas como inúteis do ponto de vista social por parte da população. E são consideradas inúteis porque funcionam mal, não resolvem os problemas das pessoas e não concretizam os objectivos para que foram instituídas. A própria Lei Eleitoral, que apenas privilegia enquanto critério de representação democrática o factor demográfico, contribui preponderantemente paras as assimetrias nacionais.
Para combater este status quo é que me candidato e quem votar em mim está a dizer que concorda comigo e que o sistema precisa de se regenerar, seja um eleitor de direita ou de esquerda. Votar em mim significa exigir a reunião de condições para uma verdadeira revisão constitucional antecedida de vários referendos. Votar em mim significa fazer funcionar a Democracia Directa para dar condições à Democracia Representativa. Referendos que permitam a introdução de uma Lei Eleitoral que introduza mecanismos de compensação em relação às diferenças demográficas, que permita a directa responsabilização dos eleitos perante os eleitores e que produza uma relação mais equilibrada entre os votos expressos e os mandatos obtidos. Referendos que permitam escolher entre o presidencialismo e o parlamentarismo, de forma acabar esta ambiguidade semi-presidencial - ou para-parlamentar - que já serviu mas que hoje já não serve.
Votar em mim é afirmar que se quer um Chefe de Estado que recusando ser ou dono do Estado ou mera figura decorativa desse mesmo Estado chama a si mesmo a suprema responsabilidade de entregar aos Portugueses a oportunidade de salvar a Democracia através da expressão directa e inequívoca da sua vontade Soberana. Votar em mim significa dizer de forma inequívoca aos partidos políticos que a fonte de Soberania é o Povo e não os seus directórios.
Votar em mim é votar claramente numa ruptura na continuidade e a legitimidade dessa ruptura será conferida pela minha expressão eleitoral. Enquanto candidato e ao colocar tão claramente as razões pelas quais venho ao que venho é dizer aos partidos políticos que a minha vitória os condiciona e os obriga às alterações que vos proponho, mesmo que as mesmas resultem numa diminuição clara dos poderes presidenciais.

*Isto é um mero exercício político :))

Da republica, da monarquia e das bandeiras

Eu sou republicano apenas por uma razão: acredito firmemente que os Homens nascem iguais. Iguais nos direitos, iguais nos deveres e iguais nas oportunidades. Qualquer monárquico por mais democrata que se sinta e seja não acredita no princípio que referi em epígrafe e qualquer discussão à volta disso é perda de tempo: um rei é alguém que quando nasce lhe é atribuido direitos e deveres de excepção, algo que eu não aceito à luz da minha noção de Humanidade. É sobre esta questão que, para mim, o debate monarquia e república se deve colocar e não no plano da "Democracia". Nesse plano há demasiadas excepções para que a discussão intelectual possa ser concisa e coerente. As cores e os símbolos da bandeira do meu País são aquelas e aqueles nela vejo para além da sua expressão formal e estética e nesse sentido tanto pode ser branca, azul e branca ou verde rubra.

quinta-feira, setembro 30, 2010

Considerações sobre a ideia de República

O que verdadeiramente distingue hoje uma República de uma Monarquia Constitucional é o postulado que todos os Homens nascem iguais – iguais nos direitos, nos deveres e nas oportunidades, não havendo por isso lugar a “privilégios e direitos de domínio” associados ao berço em que se nasce - e não por causa de conceitos que estão mais associados a uma República de que a uma Monarquia dos quais destaco Democracia e Liberdade. Há hoje Estados Monarquico-constitucionais que asseguram mais Democracia e mais Liberdade aos cidadãos do que muitas repúblicas.
O termo República deriva do latim Res publica (coisa pública) o que pressupõe, imediatamente, que do ponto de vista social existem em simultâneo duas esferas: a esfera pública (onde se trata da “coisa pública”) e a esfera privada (onde se trata das “coisas privadas”). A relação entre essas duas esferas é definida pela “liberdade”. A liberdade que garante aos cidadãos decidirem sobre o seu destino colectivo (liberdade positiva) e a liberdade que impede o Estado de interferir abusivamente da referida esfera privada (liberdade negativa).
A chamada ética republicana (do grego ethos) assenta numa perspectiva filosófica e política em que o valor supremo é o chamado “interesse público”, interesse esse definido colectivamente, e em que o poder deve ser exercido por delegação e não por usurpação e tendo em vista a salvaguarda do interesse geral que implica necessariamente a protecção dos direitos individuais, e que tem associado valores como a honestidade, a probidade, a honra, a tolerância e o assumir das responsabilidades.

segunda-feira, setembro 27, 2010

46 (QuAreNtA e SeIs)

Quarenta e seis, além de ser um número de Wedderburn-Etherington e Erdős–Woods, é o número de anos que completo hoje, o que dá 2400 semanas, 16.802 dias, , 403.248 horas, 24.194.880 minutos e 1.451.692.800 segundos. Tempo que já não me pode ser retirado e que foi vivido completamente, com dias e horas muito boas e outras muito más, mas quase todas – as boas e as más – bem sentidas. Na verdade viver para um ser humano é sentir e sentir que sente. Tal como a maior parte dos seres vivos somos entidades com comportamento, mas, ao contrário deles, temos consciência do que sentimos e porque sentimos. Também nos distinguimos dos demais seres, porque temos memória do passado, noção do presente e temos a capacidade de perspectivar o futuro. É essa consciência que faz toda a diferença.
Dias de aniversário são, por regra, dias de celebração e – de certa forma – dias de balanço. Os dias de aniversário são uma convenção que pesa. Uma convenção que faz com que os outros que nos são próximos se lembrem de nós, uma convenção que nos faz meditar sobre nós mesmos, sobre o “nosso modo, tempo e circunstâncias”.
À medida que as celebrações dos nossos aniversários se sucedem mais tendência temos para tomarmos consciência da nossa finitude e do nosso amadurecimento, para não dizer envelhecimento. Há pessoas que ficam perturbadas com isso. Eu não. Eu apenas constato tais factos.
Não é que a ideia da morte seja uma ideia completamente clarificada. Há muitas e demasiadas coisas carregadas de mistério em seu torno para que a morte me surja como algo cristalino, mas isso não faz com que a mesma me assuste. Não a temo, apenas não a desejo, embora prefira a morte a uma vida de doença e de incapacidade, mas tal situação ainda, felizmente, não se coloca. Quando e se se colocar, então e só então pensarei nisso a sério.
O certo é que me sinto confortável com e no tempo que já usufrui. De uma forma geral tenho arcado com a responsabilidade total das minhas boas e más decisões. Não tenho delegado essa responsabilidade em ninguém e tenho vivido bem com isso.
Por outro lado, à medida que vou andando, tenho procurado aprender. Cada vez gosto mais de aprender e quanto mais vou sabendo mais quero saber. Passei da fase de querer convencer para a fase de não me importar de ser convencido. Encontro hoje nos afectos que construi o meu valor mais seguro e na inquietação criativa – mas não angústia – o meu principal sopro de vida.
Sei hoje que há coisas que é preferível esquecer mas que há outras que são imperdoáveis. Mas há muitas mais que devem ser sempre lembradas e com o passar do tempo que me tocou, vou-me convencendo que viver é uma constante empreitada de obras, assente em projectos de arquitectura de requalificação de vazios urbanos. Colecciono memórias, que são as pegadas encontráveis na minha alma. Nasci instinto-intuitivo e aposto que morrerei perplexo. Quanto ao demais sou um adorador do Sol e inimigo figadal do frio... Tenho pavor da estupidez – da alheia e da própria. Percebi, atempadamente, que nem sempre há amanhã.

segunda-feira, setembro 20, 2010

O Pecado de Manuel Maria Carrilho

(“Embaixador de Portugal na UNESCO, Manuel Maria Carrilho, confirmou à Agência Lusa em Paris que foi "demitido" do cargo, recusando comentar uma decisão de que tomou conhecimento "pela notícia da agência".)



Manuel Maria Carrilho foi o melhor Ministro da Cultura de Portugal desde que há Ministério da Cultura.
Tinha uma ideia concreta sobre “política cultural do Estado” e capacidade intrínseca de se bater por essa mesma ideia quer junto do Governo quer junto da sociedade portuguesa.
Com Manuel Maria Carrilho, Portugal, ganhou notoriedade internacional e a produção cultural interna ganhou um ânimo nunca visto. Manuel Maria Carrilho deixou obra e permanece uma referência.
O “pecado” de Manuel Maria Carrilho – que conduziu ao seu afastamento das lides governativas e a esta espécie de saneamento político da UNESCO – é só um: ser honesto com o seu próprio pensamento e agir em conformidade.
Manuel Maria Carrilho não percebeu – ou se percebeu fez de conta que não percebeu – que em Portugal é muito difícil ser intelectualmente honesto. Em Portugal é essencial ser uma plasticina intelectual, adaptável a todas as realidades e circunstâncias.
Embora tendo pena que essa falta de percepção de Manuel Maria Carrilho o tenha afastado quer do Ministério quer da UNESCO fico particularmente feliz por ele continuar a persistir na estupidez de ser intelectualmente honesto.

domingo, setembro 12, 2010

Cultura, religião e conflitos

Podendo ser ou não religioso, o Homem, é, para além de biológico, fundamentalmente um ser cultural.
É o cultural que nos define enquanto seres com identidade própria e nos posiciona perante os outros e perante a comunidade.
A matriz cultural das pessoas é plurifacetada, composta por inúmeros elementos que ao longo do tempo se foram mesclando e transmitindo geracionalmente e assimilados por cada um através de um processo de aprendizagem que decorre em múltiplos contextos, em que o familiar assume particular – mas não única – importância.
As religiões condicionam e são condicionadas pela cultura. Elas enformam e informam a cultura e por ela são também informadas e enformadas, numa dinâmica que, paulatinamente e conjuntamente com outros factores, definem e caracterizam uma determinada cultura que por sua vez baliza os comportamentos dos indivíduos e dos grupos.
A influência religiosa na cultura é, por isso, importantíssima, mesmo para os indivíduos que pertencendo a um determinado grupo cultural não são particularmente religiosos ou não o são de todo.
Pegando no exemplo cristão-católico e no universo territorial em que essa religião é a mais marcante e comum, existem muitas e muitas pessoas que são ateias, agnósticas ou absolutamente arreligiosas (crentes em Deus mas descrentes em religiões, grupo em que me incluo) que apesar disso são, do ponto de vista cultural, católicas, mesmo que disso não se apercebam. São católicas nas práticas quotidianas e esse catolicismo cultural reflecte-se na forma como se relacionam com eles próprios e com os demais, na forma como trabalham e descansam, como encaram a família, na forma e no que comem, divertem, etc., etc.
Também é evidente a forma como a cultura na sua totalidade adapta a própria religião (voltando ao exemplo cristão-católico ): um católico praticante alemão é diferente de um católico praticante mediterrânico ou latino-americano.
Nesta crescente hostilidade entre cristãos e muçulmanos não são apenas credos discordantes que estão numa espécie de confronto, é muito mais do que isso: são matrizes culturais distintas que entraram numa rota de conflito. São duas formas absolutas de o Homem de ser ver a si mesmo e de ver a sociedade que estão em contenda. Enfim são duas culturas em choque.
Dentro de cada cultura existem patamares e diversos graus de evolução que quanto mais evoluídos mais disponíveis para a compreensão dos outros se tornam e isso verifica-se quer nas culturas cristãmente informadas e enformadas quer nas culturas islâmicamente informadas e enformadas. Quanto mais evoluído culturalmente é um indivíduo dotado de uma matriz cristã mais apto está para a convivência salutar com outro dotado de uma matriz cultural islâmica e vice-versa.
Por isso é que este confronto cultural é particularmente violento nos patamares mais baixos de evolução de cada cultura: quanto mais débeis são as pessoas do ponto de vista cultural mais mesquinhas e sectárias são. Os fundamentalistas (cristãos e islâmicos) são culturalmente primitivos, ignorantes, pouco disponíveis para a aprendizagem e completamente fechados para os outros.
Por isso é que o eliminar deste cancro tem que ser feito por dentro, ou seja, cabe aos cristãos culturalmente evoluídos “educarem” aqueles que partilhando a sua cultura estão ainda num estágio primitivo e o mesmo caberá aos muçulmanos culturalmente evoluídos em relação aos seus. Só assim a realidade se poderá alterar e que o ecumenismo cultural poderá acontecer.

sábado, setembro 04, 2010

Sobre o julgamento do caso "Casa Pia"

Está o País empolgado com o fim do julgamento do “Caso Casa Pia”. Eu não estou nem empolgado nem convencido.
É evidente que houve vítimas. Vítimas indefesas que foram violentadas de forma indigna, crime ainda mais horroroso quando sabemos que as mesmas estavam à guarda do Estado, à guarda de todos nós.
É evidente que houve criminosos e houve condenações no citado processo. Mas já todos percebemos que desse rol de criminosos a maior parte não foi a julgamento. Poder-se-á dizer que em relação a esses não houve indícios suficientes de culpa. Talvez, mas o problema é que, por aquilo que se percebe deste processo, esses mesmos indícios insuficientes em relação a alguns, tornaram-se mais do que suficientes para condenar outros.
É esta duplicidade de critérios em relação aos indícios que me faz não estar nada convencido, porque, vejamos, se os mesmos indícios ora são suficientes ou insuficientes conforme os suspeitos isso só pode significar que foram valorizados de forma diferente conforme o suspeito, o que nos leva, obviamente, às seguintes conclusões: partindo do princípio que os indícios em causa eram efectivamente suficientes para condenar então à lista dos julgados e dos condenados faltam muitos nomes; partindo do princípio que os indícios em causa eram efectivamente insuficientes então os condenados foram-no indevidamente.
Por isso tudo ninguém pode dizer que foi feita Justiça. Não pode haver Justiça quando apenas alguns são condenados e não pode haver Justiça quando há condenados através de elementos alegadamente probatórios obtidos a partir de indícios entendidos de forma dúplice. Até pode ser que se tenha feito alguma justiça com este julgamento, mas “alguma justiça” não é Justiça suficiente. Não o é para as vítimas, não o é para os condenados e não o sendo não pode ser Justiça para a sociedade.

quinta-feira, agosto 26, 2010

Da República da Corja - submarinos, helicópteros e tratantes

Acabei de ver uma reportagem SIC sobre as trapalhadas relacionadas com a aquisição dos submarinos, torpedos, helicópteros e carros de combate, em que milhões de euros relacionados com as compartidas se perderem por incúria ou má fé.
Em qualquer país democrático e “normal” isto seria um escândalo monumental, capaz de dar cabo da carreira política de primeiros ministros, ministros, secretários de estado, provocar o despedimento de inúmeros gestores públicos e a irradiação de várias chefias militares.
Num país como Portugal é apenas mais um caso perdido nos labirintos límbicos da chamada “Justiça”.
A República da Corja.

Sobre Fado e sobre Amália Rodrigues

A RTP2 tem emitido uns programas sobre fado, com especial incidência em Amália Rodrigues.
Desde miúdo que gosto de Fado, de uma forma instintiva. Sempre o percebi mesmo no tempo em que não o entendia. Nascido em 1964, o Fado, não era um género musical apreciado pela maioria das pessoas da minha geração, e nos meus tempos da adolescência, para não parecer mal, o meu gosto pelo Fado era cultivado quase na clandestinidade, quase com vergonha. Fases.
Por muitas que sejam as teorias, para mim o Fado é o cantar árabe reconstruído nas calçadas de Lisboa ao longo dos séculos. É assim que o Fado me soa e é assim que o Fado me faz sentido.
Não se pode falar de Fado sem falar em Amália Rodrigues. É incontornável e é-o porque a sua voz é única. Nunca ninguém o cantou como ela e duvido que alguém o cantará como ela o cantou.
Amália Rodrigues trouxe a grande poesia e os grandes poetas para o Fado e a sua voz a cantar esses poemas de excepção, com um fundo de guitarras, de guitarras portuguesas, é uma experiência estética e espiritual extraordinária.
Neste tempo de globalização, em que tudo procura ser igual em todo o lado, aprender a gostar de Fado é um acto de vanguardismo.
Por aqui e por ali têm aparecido grupos e formações musicais que têm produzido reinterpretações do Fado com muito interesse, mas isso não implica, bem pelo contrário obriga, a que não se ouça o Fado tal como ele é. Perfeito, eterno e que queiram ou não queiram, saibam ou não saibam, canta Portugal.
O Fado de Amália de Rodrigues.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Sobre o fecho da Papelaria Fernandes

“Em comunicado enviado hoje à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Papelaria Fernandes anunciou o encerramento de 12 das suas 14 lojas e a dispensa de 100 funcionários.
No passado mês de Julho, a papelaria divulgou os dados referentes a 2009, que davam conta de uma quebra de 64 por cento nas receitas face ao ano anterior, para os 4,6 milhões de euros.

A empresa teve prejuízos na ordem dos 17 milhões de euros, consequência dos custos relacionados com a redução de 280 postos de trabalho que custaram, em indemnizações, cerca de 4,7 milhões de euros.

Em 2009, a facturação da papelaria diminuiu 8,4 milhões de euros, em relação a 2008 e as dívidas alcançaram os 64 milhões de euros”
- "Público".

Mais uma casa comercial centenária que fecha as suas portas, atirando para o desemprego dezenas e dezenas de pessoas.
Fui cliente da Papelaria Fernandes anos e anos e este desenlace na me espanta e parece-me a mim que já estava planeado e que a recuperação sucessivamente anunciada não passou de um conto da carochinha. No último ano as lojas limitaram-se a liquidar stocks, sem qualquer reposição, mantendo, no entanto, abertas as lojas nas grandes superfícies comerciais cujos contratos de arrendamento são, por regra, leoninos. Não admira que a facturação tenha diminuído. Diminuiu deliberadamente, talvez para servir como argumento para o presente encerramento. Senão vejamos: como é que a facturação não tinha que diminuir se as lojas já quase não tinham produtos para vender e no entanto eram mantidos os estabelecimentos abertos a pagar rendas caríssimas? Só por milagre é que a facturação não poderia ter descido e os ordenados devidos aos trabalhadores poderiam ser pagos.
É mais uma história triste em que valores como respeito à “casa” – marca, trabalhadores e clientes – são esquecidos.
É o que deu a parolice de transformar empresas comerciais sólidas, com patrão com cara definida, em “grupos”.
“Grupos” de oportunistas especuladores é o que é.

sábado, agosto 07, 2010

Portugueses? Brandos costumes???

A perspectiva de um “povo de brandos costumes” foi idealizada e propagandeada pelo Estado Novo. Dava jeito ao imaginário da Ditadura, ruralista e autoritária, que era, nos seus contornos essenciais, a expressão do imaginário do próprio ditador, Oliveira Salazar.
Os Portugueses, nós, nunca fomos de brandos costumes. Já não o éramos antes de sermos Portugueses.
Nunca fomos de brandos costumes, em nenhum dos costumes. Costumes colectivos e costumes individuais. Costumes políticos e costumes sociais. Costumes culturais e até mesmo nos costumes económicos.
A violência esteve, está e estará sempre presente na nossa forma de ser. Pode não ser uma violência exuberante à espanhola, mas é violência. Violência que quando explode é terrível.
Esta violência que está presente em nós pode ser encontrada na Reconquista, na Expansão. Esta violência que está presente em nós pode ser encontrada na assistência aos autos-de-fé, nos crimes passionais e por causa da propriedade, no trânsito, nas bancadas dos recintos desportivos, no assassínio de reis, príncipes e presidentes, nas revoluções, guerra civil, intentonas e em reuniões de condomínio. Esta violência que está presente em nós pode ser encontrada à porta dos tribunais de hoje da mesma forma que estava na face dos assistentes aos desmembramento dos Távoras. Esta violência que está presente em nós pode ser encontrada nos sermões sacerdotais ou monacais e nos desrespeitar dos peões nas passadeiras ou dos motociclistas nas estradas.
Só somos brandos no assumir das responsabilidades e na condenação do iníquo. Basta ver que em Portugal a culpa nunca se casa – e casando-se depressa enviúva – e os corruptos são elevados a heróis com direito a reeleição. Mas esta é uma falsa brandura, na verdade é uma violência inaudita.

sexta-feira, agosto 06, 2010

A rapaziada do Tio Sam

Os Estados Unidos da América preparam-se para abandonar o Iraque. Mais uma vez a rapaziada do Tio Sam, após uma entrada de leão, tem uma saída de “sendeiro”.
Uma saída que deixa um país mergulhado num caos económico e social absoluta, com as suas principais estruturas destruídas. É verdade que já não tem Saddam Hussein ao leme, mas está a milhas de ser democrático e com todas as condições para fazer emergir vários “Saddam”.
Invadido por causa do petróleo, abandonado por causa da despesa.
A rapaziada do Tio Sam vai agora, ao que parece, concentrar-se no Afeganistão, ou seja vai consumir biliões de dólares e destruir muitas mais vidas humanas para, daqui a uns anitos, fazer o mesmo: sair à sendeiro.
O mundo começa a perceber Obama e as suas profundas limitações. A retórica é quotidianamente destruída pela força dos factos.
Guantanamo? Na mesma.
Conflito israelo-arabe? Na mesma.
Seja o Presidente norte-americano branco ou negro, democrata ou republicano é completamente indiferente. A máquina é a mesma e o dinheiro não muda de cor. É sempre verde-lodo.
Da mesma forma que é igual a ignorância, a arrogância e o espírito messiânico.
No entanto hoje há coisas que já não são o que eram. Há a China, há o Brasil, há a Índia e há uns EUA a espernear sem puderem ser mais o que já foram e sem saberem o que querem ser ou, sequer, o que podem ser.
O que se mantém igual é uma Europa presa nas suas profundas contradições, sem rumo e sem destino claro. E muita fome e miséria no mundo. E muitas vidas perdidas – ou mortas ou sem futuro que é quase a mesma coisa.

sábado, julho 31, 2010

A Ministra da Educação que acabar com o "chumbo" - grande Ministra!!!

Eu não sou “perito” em “Educação”, mas desde que me lembro sou aluno e já dei algumas aulas, ou seja a minha visão sobre a matéria não é científica, é construída por experiência própria e pela observação pessoal, mas não sustentada em conhecimentos aprofundados em pedagogia. Também não sou daqueles que afirma que o “ensino dantes é que era bom”. Sobre isso acho que havia coisas melhores mas havia muitas mais piores.
No entanto apesar desta míngua de sustentação científica das minhas opiniões considero que o “Educação” é um sistema falhado em Portugal, todo ele direccionado não para a formação e aquisição consistente de conhecimentos mas sim para uma ideia de sucesso que privilegia apenas o “o passar” e a não desistência da escola.
Tenho também a sensação que os professores produzidos por este sistema são, em regra, mais ignorantes, que têm do ensino uma ideia meramente profissional esquecendo o quanto de “missão” que o mesmo deve estar imbuído, que o Ministério da Educação – tirando algumas excepções – navega à vista, sem rumo definido, em constantes contradições, cada vez mais gordo e pesado, dizendo agora uma coisa e cinco minutos depois algo diverso, que os sindicatos da área são essencialmente corporativistas e partidariamente inquinados, que os pais são cada vez mais exigentes e menos cooperantes e avessos a assumir as suas próprias responsabilidades, enfim que o enredo, o cenário e os actores são cada vez mais e mais fracos.
Ouvi hoje dizer que a Ministra da Educação quer acabar com o chumbo nas escolas porque o chumbar prejudica o aluno. Ela tem toda a razão: faz todo o sentido com o pandemónio que caracteriza o ensino.
Esta Ministra da Educação – ao contrário da sua antecessora – é a maior aliada e cúmplice do sistema vigente: não percebe nada de educação e não quer problemas.
No entanto apesar do que dita o sistema e do que afirma a Ministra da Educação, a minha opinião que não é cientificamente sustentada é distinta: não acredito na transmissão de conhecimentos por parte de quem não sabe ou não gosta de os transmitir, não acredito na aquisição de conhecimentos sem muito trabalho, esforço e estudo, não acredito que o passar por passar e o ficar na escola apenas porque é obrigatório sirva para alguma coisa.
Mas a minha opinião, reconheço, é irrelevante: não sou pedagogo.

terça-feira, julho 13, 2010

Faz quatro anos....

Faz quatro anos que partiste. Sem aviso. Como uma rajada de vento, inesperada e violenta.
O imenso espaço que ocupavas na vida, em nós, em mim, continua por preencher.
Deixaste um espelho. Um espelho onde olho e vejo reflectida a memória e a saudade.
Quatro anos passaram, muita água passou debaixo de todas as pontes. Debaixo da minha ponte.
Estou mais velho mãe. Mais cansado. Mas continuo a gostar de tudo o quanto me ensinaste a gostar. A gostar mais ainda. Tenho muita pena de não te poder dizer isso.
Lembro-me, quando mo davas, de pensar que jamais esqueceria o teu colo. Não me enganei nisso.
Quero que saibas que apesar de tudo estou bem. Continuo a fazer o meu caminho. É verdade que o faço já sem correrias, sem me preocupar muito se chego ou não, mas continuo a andar.
Quero que saibas que estou em paz. Percebi qual seria a paz a que tinha direito e aprendi a fazer dela a paz suficiente. Isso não significa que perdi a capacidade de me enfurecer. Mas também não desaprendi a rir. A rir de mim e rir do que tem graça. Da mesma forma que não me engano, confundindo de propósito o que é bem e o que é mal, o bem que me ensinaste e o mal para que me alertaste. Ah…outra coisa mãe, ainda não me vendi. Não me vendi por mim, mas também quero que saibas que também não me vendi por ti. Se me vendesse, quando chegasse a minha hora, talvez Deus entendesse porquê, mas tu, tenho a certeza que não compreenderias nem aceitarias, e eu prefiro mil vezes a tua compreensão que o perdão de Deus.
Enquanto escrevo isto para ti ouço a Callas. A tua Callas.
Manda-me um beijo da parte nenhuma em que estás que é em toda a parte. Essa toda a parte em que estás é o céu azul de Verão ou de noite estrelada, mas é também o mar e um campo de trigo, um quadro, uma sinfonia, um entardecer dourado e o clarão de um relâmpago. Eu sei que estás aí, porque aí te tenho visto.
Do teu sempre filho,
MNN

quinta-feira, julho 01, 2010

Modelo percentagem fixa e chapa cinco e o descalabro na Cultura

A grave situação económica e financeira que o País atravessa provoca uma espécie de ensandecimento político que se traduz na febre de reduzir a despesa no “modelo percentagem fixa e chapa cinco”, ou seja o corte de x% em tudo, solução errada e que acaba sempre por trazer mais prejuízos do que lucros.
A questão é fácil de perceber: imaginemos uma família normal em que a crise obriga a uma contenção de despesas. Imaginemos ainda que nessa família é decidida uma redução de 10% a todas as despesas. Resultado prático: as propinas do menino ou da menina são no valor de 100 euros por mês. A redução de 10% aplicada a esses 100 euros mensais resultam nuns 90 euros insuficientes para pagar a dita propina, ou seja, o menino ou a menina deixam de poder frequentar o estabelecimento de ensino.
Este exemplo, mais simplório do que simples, serve no entanto para ilustrar a patetice que é a aplicação da receita acima referida.
O que é preciso, antes de se proceder a qualquer corte, é eleger prioridades e estando as ditas elencadas proceder aos cortes necessários mas com inteligência e razoabilidade.
Fico sempre assustado com essas decisões porque percebo que resultam de incompetência.
O que está acontecer ao nível de dois Ministérios essenciais para o progresso do País – o da Educação e o da Cultura – é um exemplo claríssimo dessa política cega e estúpida.
O que se está a passar ao nível do Ministério da Educação é já do conhecimento geral e objecto de amplo debate público. No entanto pouco se fala no Ministério da Cultura, em que os cortes anunciados, decididos apenas mediante critérios contabilísticos, vão ter efeitos tremendos no panorama cultural português, reforçando o enorme caudal de mentiras que tem caracterizado o (des)governo Sócrates: a Cultura foi considerada pelo PS, na última campanha eleitoral, como uma das prioridades.
É evidente que a Ministra da Cultura tem especiais responsabilidades nesta situação ao ser absolutamente incapaz, em sede de discussão orçamental, em travar a sangria. Longe vão os tempos do Professor Manuel Maria Carrilho.
O que se está passar ao nível dos apoios aos museus, ao teatro, à dança, ao cinema e á música é um perfeito escândalo, para já não falar da inexistência de qualquer apoio à protecção e salvaguarda do património edificado.
Era bem melhor que a Senhora Ministra da Cultura aparecesse menos em revistas de moda, recepções e funerais de estado e dedicasse mais tempo a cumprir com as suas obrigações políticas. Se não for capaz de impor critérios diferentes para a Cultura, terá sempre a opção da decência: sair do governo.

quinta-feira, junho 17, 2010

Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, considera o “Processo de Bolonha”uma fraude

Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, considera o “Processo de Bolonha”uma fraude e um grande negócio para Universidades e Institutos Superiores de Ensino.
Eu não considero o “Processo de Bolonha” uma fraude. O “Processo de Bolonha” visava uma harmonização do ensino superior (qualidade, semelhança de conteúdos e duração) no seio da União Europeia. No entanto, considero que a aplicação desse mesmo processo em Portugal representou um grande negócio para as Universidades e muito especialmente para os Institutos Superiores Universitários privados e uma fraude quase generalizada em relação à questão da “qualidade”.
As Universidades Portuguesas e os Institutos Superiores de Ensino, com excepções evidentemente, estão a ganhar rios de dinheiro e a produzir ignorantes em série. Transformaram, de qualquer maneira, licenciaturas que duravam 4 e 5 anos em licenciaturas que duram 3 anos, mantendo rigorosamente a mesma carga horária. Os estudantes destas mesmas licenciaturas, com as férias, semanas académicas e períodos de preparação para frequências e exames, têm, por ano, menos de seis meses de aulas, ou seja acabam “licenciados” com menos de 18 meses de aulas. Isto é um escândalo a que se deve acrescentar a forma absolutamente leviana como essas mesmas Universidades e Institutos Superiores de Ensino estão a gerir as "facilidades" para os “maiores de 23 anos”.
As Universidades e os Institutos Superiores de Ensino, na sua maioria, sobretudos os privados, estão transformados em máquinas de fazer de dinheiro, num negócio que está a gerar lucros obscenos à custa das expectativas dos mais jovens. É o Portugal "à la Socrates".

quinta-feira, maio 06, 2010

"Família"

Fico sempre irritado quando ouço dissertações mais ou menos inflamadas sobre a necessidade de “proteger a família”, sobretudo porque as mesmas aparecem em relação a assuntos que nada têm a ver com “Família”, como por exemplo a interrupção voluntária da gravidez, divórcio ou casamento dos homossexuais.
Fico sempre com a impressão que essas pessoas ou não percebem nada sobre “Família” e a sua importância ou têm da mesma uma noção muito diferente da minha. Fico sempre com a impressão que, para essas pessoas, “Família” é uma espécie de presépio ou de anúncio publicitário americano, do género que se poderia ver nas velhinhas revistas de Reader’s Digest dos anos cinquenta, em que apareciam sempre famílias numerosas e muito felizes ou sentadas à mesa ou em passeio.
Para mim “Família” não é nada disso.
Para mim “Família” é a velha árvore da minha identidade e onde ramificam os meus afectos.
Para mim “Família” é a minha herança genética e o meu património cultural.
Para mim “Família” é o universo da consanguinidade e das somas dos outros que passam a ser dos nossos e a tornar os demais que aí resultam nossos.
A “Família” não precisa de ser “protegida”. A “Família” precisa é de ser reconhecida, preservada e amada – com todos os seus defeitos, contradições, desapontamentos e mal entendidos – pelos seus membros.
O resto...o resto é treta e mito.

sexta-feira, abril 30, 2010

Economia por um leigo

Até eu que não sou economista percebo que o nosso tecido produtivo é inviável. Não há economia que possa funcionar equilibradamente sem os sectores primário e secundário.
Portugal, alegremente, destruiu esses seus sectores. Para termos uma ideia do que isso representa basta pensar que não temos frota pesqueira, não temos frota mercante, não temos agricultura e não assistimos à abertura de uma fábrica há quase uma década.
Por outro lado o termos adoptado o Euro e mandado o Escudo às malvas arruinou-nos a possibilidade de termos uma política monetária.
O Euro só foi bom para os portugueses que fazem turismo. Para os demais foi uma desgraça. Uma desgraça, a título de mero exemplo, que fez que de um dia para o outro um pé de salsa passasse de 50 escudos para 1 euro.
Portugal é a República das Bananas do Terciário de terceira categoria da Europa.
Somos um País de prestadores de serviços.
Ora prestar serviços não produz aço, máquinas, pão e nem sequer assegura o robalo para ser cozinhado no forno.
Prestar serviços conduziu-nos a um estado de semi-escravidão.
É altura de percebermos que ou mudamos as coisas ou as coisas nos destruirão.
Essa mudança de paradigma vai custar, vai ser difícil. Mas será que este pântano em que vivemos não custa e não é difícil? Custa, é difícil e mais grave do que tudo é inconsequente.
Temos todas as condições para recuperarmos o primário e o secundário…o que é preciso é coragem político, porque Povo corajoso temos que chegue e sobre….

quarta-feira, abril 28, 2010

Eu exigo AUTORIDADE

O futuro do País e da nossa Democracia assenta numa coisa simples: autoridade.

Autoridade não autoritarismo.

Autoridade é aquilo que confere respeitabilidade às instituições e aos seus agentes e assenta no conhecimento, na honestidade e na disciplina.

Instituições e agentes políticos sem autoridade são o cancro de qualquer comunidade. O poder - o deter e exercer – de per si não vale nada, mesmo que legitimado democraticamente.

O que confere dignidade e reconhecimento de utilidade social ao poder é a autoridade.

Uma autoridade que respeita a Lei, que evidencia competência e que dá exemplo.

Uma Democracia sem autoridade é mais corrosiva do que uma ditadura autoritária. Uma Democracia sem autoridade é enganadora. Uma ditadura não engana ninguém.

Políticos, alegadamente democráticos, corruptos, ignorantes e incompetentes são piores do que ditadores.

O nosso Povo tem direito à autoridade e esse deverá ser o seu combate principal: exigir uma Democracia sustentada pela autoridade.

domingo, abril 25, 2010

25 de Abril de 2010

Mais um aniversário do Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 que iniciou o período revolucionário que findou com a aprovação da Constituição de 1976, instaurando a Democracia como o regime enquadrador do sistema político português.
Um sistema político que se encontra em estado urgente de reformulação e aperfeiçoamento com o objectivo prioritário de evitar que a nossa Democracia – que está em degradação – não se transforme num mero formalismo.
Um sistema político que assenta em instituições degradadas, que não merecem a confiança dos cidadãos, pejado de protagonistas e agentes medíocres.
Um sistema político que contribui para empobrecimento da maioria da população e para enriquecimento imoral de uma minoria.
Um sistema político, pejado de várias e concorrentes sedezinhas de poder, que em vez de promoverem o equilíbrio apenas desgastam o dito sistema.
Um sistema político que tem afastado os cidadãos do exercício pleno dos seus direitos e deveres de cidadania.
Em suma, um sistema político anacrónico e incapaz de corresponder quer às exigências contemporâneas da Democracia quer às legítimas expectativas dos cidadãos deste Portugal do século XXI.

sábado, abril 24, 2010

Eu, Flew e o nosso Deus

Morreu Anthony Flew, o filósofo do “deísmo”, o pensador que melhor exprimiu o meu conceito de Deus.
Para Flew – e para mim – por razões de ordem lógica (uma lógica aristotélica e também tomista) Deus existe.
Mas este nosso Deus não é justo nem injusto, nem bom nem mau, nem vingativo nem tolerante. Este nosso Deus apenas é. Não é humano mas apenas motor.
Para Flew – e para mim – a Deus o princípio. O resto, por cá, foi, é e sempre será apenas connosco.

sexta-feira, abril 23, 2010

Dos livros meus

Não sei quantos livros tenho ou quantos li. Sei apenas que muito do que sou aos livros o devo. Não consigo, sequer, imaginar como seria sem os livros que li.

Lembro-me da primeira vez que me falaram seriamente sobre os livros e o que me disseram: “se gostares de ler dificilmente te sentirás só”. Foi a minha mãe.

terça-feira, abril 20, 2010

Bloco Central de Interesses, Guano Incorporation

Os vendilhões do Templo são eles próprios uns vendidos.
Fizeram de Portugal uma prostituta com o seu proxenetismo militante.
Uma prostituta pobre e mal amanhada de quem nós somos filhos.
Um fartar vilanagem até à exaustão sem compaixão.
Neste colo de prostituta só os pobres e a ignorância aumentam e tudo o mais diminui.
E é vê-los aí e por aí, sempre os mesmos há tantos e tantos anos a engordar à custa da miséria dos demais, à custa dos sonhos dos demais, enfarpelados em parolice e a estourar de cartões de crédito e bónus. Abonar, abonam-se eles. E muitos até não fazem mal por mal. Fazem mal porque são néscios.
Não lêem livros, só revistas ou porcaria escrita por porcaria de gente tal qual eles.
O que será de nós sendo velhos, o que será dos nossos filhos que serão mais pobres do que os pobres que somos ?
Serão escravos. Há muita forma de se ser escravo!

domingo, abril 18, 2010

Onde me sinto bem

Numa sala galeria, profunda, ladeada de espelhos e janelas, um chão de mármore branco, coberto, em longitude centrada, por um longo tapete vermelho.
Nas paredes espadas.
No ar Bach...
Ao fundo uma lareira acesa e por todo o lado reflexos no ouro velho.

Num café antigo, com ventoinhas largas no tecto e ladrihos aos losangos no chão.
As mesas de madeira, com tampos de mármore redondo.
Nas paredes retratos de bela gente já morta.
No ar o som sussurrado de vozes e o cheiro a café fresco.
Ao fundo um balcão longo e um garçon de mil anos.

Num sótão com mansarda estreita, com teias de aranha e muitos baús.
Nas paredes humidade.
No ar fantasmas de quem já foi e persiste em querer ser
Pelo chão fotografias velhas, mesinhas de cabeceira e cadeiras despernadas, livros velhos e um combóio de lata.

sábado, abril 17, 2010

Sobre Júlio Pomar

Há cerca de uma década tive o enorme prazer de conhecer pessoalmente Júlio Pomar, quando a propósito da inauguração de uma exposição sobre a sua obra gráfica ele se deslocou ao Forum da Maia. Enquanto anfitrião e muito especialmente enquanto seu admirador incondicional, tive a oportunidade de conversar com ele longamente. Não me recordo exactamente de todos os pormenores dessa conversa, mas o que me ficou gravado para todo o sempre foi a impressão de uma simplicidade genial. Pomar, um artista mundialmente consagrado, revelou-se-me como alguém afabilíssimo, quase estranhamente humilde, muitíssimo culto e capaz de esquematizar verbalmente conceitos e pontos de vista complexos com uma enorme simplicidade. Se até então eu já era um admirador do artista na exacta medida da sua produção, fiquei a ser um admirador do homem na exacta medida da sua dimensão.
Escrevo-vos hoje sobre isto porque na edição desta semana da Revista Única (Expresso), Pomar concede uma entrevista, muitíssimo bem feita por Ana Soromenho, em que as razões que me levaram a admirar o homem aparecem todas – e claramente – expressas. Não a percam.
Deixo-vos aqui algumas frases soltas, por ele proferidas, e que destaquei do dito trabalho jornalístico:~

“Emprenhei sempre pelos olhos, nunca pelos ouvidos”.
“A situação de me armar em fenómeno não me agrada nada. Detesto os Dali de serviço”.
“O acaso é a matemática mais rigorosa que se oferece a cada pessoa”.

Vá...leiam a entrevista.

segunda-feira, abril 12, 2010

Às vezes o silêncio é bem mais harmónico do que uma sinfonia...

Não há nada mais difícil nesta vida do que subir a um palco e tocar
(Gabriela Canavilhas, Revista Única, 10.Abr.2010)

Descer às profundezas de uma mina e recolher minério é muito mais fácil do que subir a um palco e tocar.
Embarcar numa casca de noz e ir pescar para o alto mar é muito mais fácil do que subir a um palco e tocar.
Operar um tumor cerebral é muito mais fácil do que subir a um palco e tocar.

Há coisas que nem metaforicamente devem ser ditas, muito menos por uma Ministra da Cultura.

terça-feira, abril 06, 2010

A Pedofilia e a Igreja Católica Romana

Nota prévia: sou absolutamente arreligioso.

Os escândalos relacionados com a pedofilia têm assolado em catadupa a Igreja Católica Romana, facto que tem contribuído para que a dita confissão religiosa e os seus mais altos representantes estejam sob “fogo intenso”.
O crime de pedofilia é abominável em si mesmo, passível de condenação pesada em qualquer sociedade civilizada, e as motivações patológicas de quem o pratica não devem servir para atenuar a culpa mas apenas para que à pena aplicada se acrescente tratamento.
Os pedófilos não pertencem a nenhuma cultura, classe social, etnia ou credo religioso em particular.
Os pedófilos são transversais a todas as classificações humanas possíveis.
Não há nem mais nem menos pedófilos no universo católico do que no protestante, judaico, muçulmano, arreligioso, agnóstico ou ateu.
O problema da pedofilia praticada por sacerdotes católicos é apenas agravado do ponto de vista da sua percepção social porque a religião é matéria de fé assente em confiança. Confiança na mensagem e confiança nos seus portadores.
Um padre pedófilo é um cancro que mina a confiança dos crentes e multiplica a motivação dos seus adversários.
Por outro lado a atitude secular da Igreja Católica do silenciar por medo das consequências e do sonegar à justiça dos homens aquilo que é da Justiça dos homens só tem contribuído para a triplicação dos danos que estes escândalos lhe estão a causar.
A Igreja Católica está a esquecer que o assumir do “pecado” só vale se tal implicar o assumir das respectivas responsabilidades. Não basta pedir perdão é preciso a contrição e essa implica penitência e cumprimento de pena.
Se a Igreja Católica pretende manter a autoridade moral sobre os seus fiéis tem que se dar ao respeito, afastando do seu seio todos os pedófilos e ajudar sem reticências quer as vítimas quer os sistemas judiciais.
Se neste caso a culpa morrer solteira, embrulhada num perdão abstracto, a Igreja Católica Romana estará a um passo da sua auto-destruição.

segunda-feira, abril 05, 2010