sexta-feira, abril 30, 2010

Economia por um leigo

Até eu que não sou economista percebo que o nosso tecido produtivo é inviável. Não há economia que possa funcionar equilibradamente sem os sectores primário e secundário.
Portugal, alegremente, destruiu esses seus sectores. Para termos uma ideia do que isso representa basta pensar que não temos frota pesqueira, não temos frota mercante, não temos agricultura e não assistimos à abertura de uma fábrica há quase uma década.
Por outro lado o termos adoptado o Euro e mandado o Escudo às malvas arruinou-nos a possibilidade de termos uma política monetária.
O Euro só foi bom para os portugueses que fazem turismo. Para os demais foi uma desgraça. Uma desgraça, a título de mero exemplo, que fez que de um dia para o outro um pé de salsa passasse de 50 escudos para 1 euro.
Portugal é a República das Bananas do Terciário de terceira categoria da Europa.
Somos um País de prestadores de serviços.
Ora prestar serviços não produz aço, máquinas, pão e nem sequer assegura o robalo para ser cozinhado no forno.
Prestar serviços conduziu-nos a um estado de semi-escravidão.
É altura de percebermos que ou mudamos as coisas ou as coisas nos destruirão.
Essa mudança de paradigma vai custar, vai ser difícil. Mas será que este pântano em que vivemos não custa e não é difícil? Custa, é difícil e mais grave do que tudo é inconsequente.
Temos todas as condições para recuperarmos o primário e o secundário…o que é preciso é coragem político, porque Povo corajoso temos que chegue e sobre….

quarta-feira, abril 28, 2010

Eu exigo AUTORIDADE

O futuro do País e da nossa Democracia assenta numa coisa simples: autoridade.

Autoridade não autoritarismo.

Autoridade é aquilo que confere respeitabilidade às instituições e aos seus agentes e assenta no conhecimento, na honestidade e na disciplina.

Instituições e agentes políticos sem autoridade são o cancro de qualquer comunidade. O poder - o deter e exercer – de per si não vale nada, mesmo que legitimado democraticamente.

O que confere dignidade e reconhecimento de utilidade social ao poder é a autoridade.

Uma autoridade que respeita a Lei, que evidencia competência e que dá exemplo.

Uma Democracia sem autoridade é mais corrosiva do que uma ditadura autoritária. Uma Democracia sem autoridade é enganadora. Uma ditadura não engana ninguém.

Políticos, alegadamente democráticos, corruptos, ignorantes e incompetentes são piores do que ditadores.

O nosso Povo tem direito à autoridade e esse deverá ser o seu combate principal: exigir uma Democracia sustentada pela autoridade.

domingo, abril 25, 2010

25 de Abril de 2010

Mais um aniversário do Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 que iniciou o período revolucionário que findou com a aprovação da Constituição de 1976, instaurando a Democracia como o regime enquadrador do sistema político português.
Um sistema político que se encontra em estado urgente de reformulação e aperfeiçoamento com o objectivo prioritário de evitar que a nossa Democracia – que está em degradação – não se transforme num mero formalismo.
Um sistema político que assenta em instituições degradadas, que não merecem a confiança dos cidadãos, pejado de protagonistas e agentes medíocres.
Um sistema político que contribui para empobrecimento da maioria da população e para enriquecimento imoral de uma minoria.
Um sistema político, pejado de várias e concorrentes sedezinhas de poder, que em vez de promoverem o equilíbrio apenas desgastam o dito sistema.
Um sistema político que tem afastado os cidadãos do exercício pleno dos seus direitos e deveres de cidadania.
Em suma, um sistema político anacrónico e incapaz de corresponder quer às exigências contemporâneas da Democracia quer às legítimas expectativas dos cidadãos deste Portugal do século XXI.

sábado, abril 24, 2010

Eu, Flew e o nosso Deus

Morreu Anthony Flew, o filósofo do “deísmo”, o pensador que melhor exprimiu o meu conceito de Deus.
Para Flew – e para mim – por razões de ordem lógica (uma lógica aristotélica e também tomista) Deus existe.
Mas este nosso Deus não é justo nem injusto, nem bom nem mau, nem vingativo nem tolerante. Este nosso Deus apenas é. Não é humano mas apenas motor.
Para Flew – e para mim – a Deus o princípio. O resto, por cá, foi, é e sempre será apenas connosco.

sexta-feira, abril 23, 2010

Dos livros meus

Não sei quantos livros tenho ou quantos li. Sei apenas que muito do que sou aos livros o devo. Não consigo, sequer, imaginar como seria sem os livros que li.

Lembro-me da primeira vez que me falaram seriamente sobre os livros e o que me disseram: “se gostares de ler dificilmente te sentirás só”. Foi a minha mãe.

terça-feira, abril 20, 2010

Bloco Central de Interesses, Guano Incorporation

Os vendilhões do Templo são eles próprios uns vendidos.
Fizeram de Portugal uma prostituta com o seu proxenetismo militante.
Uma prostituta pobre e mal amanhada de quem nós somos filhos.
Um fartar vilanagem até à exaustão sem compaixão.
Neste colo de prostituta só os pobres e a ignorância aumentam e tudo o mais diminui.
E é vê-los aí e por aí, sempre os mesmos há tantos e tantos anos a engordar à custa da miséria dos demais, à custa dos sonhos dos demais, enfarpelados em parolice e a estourar de cartões de crédito e bónus. Abonar, abonam-se eles. E muitos até não fazem mal por mal. Fazem mal porque são néscios.
Não lêem livros, só revistas ou porcaria escrita por porcaria de gente tal qual eles.
O que será de nós sendo velhos, o que será dos nossos filhos que serão mais pobres do que os pobres que somos ?
Serão escravos. Há muita forma de se ser escravo!

domingo, abril 18, 2010

Onde me sinto bem

Numa sala galeria, profunda, ladeada de espelhos e janelas, um chão de mármore branco, coberto, em longitude centrada, por um longo tapete vermelho.
Nas paredes espadas.
No ar Bach...
Ao fundo uma lareira acesa e por todo o lado reflexos no ouro velho.

Num café antigo, com ventoinhas largas no tecto e ladrihos aos losangos no chão.
As mesas de madeira, com tampos de mármore redondo.
Nas paredes retratos de bela gente já morta.
No ar o som sussurrado de vozes e o cheiro a café fresco.
Ao fundo um balcão longo e um garçon de mil anos.

Num sótão com mansarda estreita, com teias de aranha e muitos baús.
Nas paredes humidade.
No ar fantasmas de quem já foi e persiste em querer ser
Pelo chão fotografias velhas, mesinhas de cabeceira e cadeiras despernadas, livros velhos e um combóio de lata.

sábado, abril 17, 2010

Sobre Júlio Pomar

Há cerca de uma década tive o enorme prazer de conhecer pessoalmente Júlio Pomar, quando a propósito da inauguração de uma exposição sobre a sua obra gráfica ele se deslocou ao Forum da Maia. Enquanto anfitrião e muito especialmente enquanto seu admirador incondicional, tive a oportunidade de conversar com ele longamente. Não me recordo exactamente de todos os pormenores dessa conversa, mas o que me ficou gravado para todo o sempre foi a impressão de uma simplicidade genial. Pomar, um artista mundialmente consagrado, revelou-se-me como alguém afabilíssimo, quase estranhamente humilde, muitíssimo culto e capaz de esquematizar verbalmente conceitos e pontos de vista complexos com uma enorme simplicidade. Se até então eu já era um admirador do artista na exacta medida da sua produção, fiquei a ser um admirador do homem na exacta medida da sua dimensão.
Escrevo-vos hoje sobre isto porque na edição desta semana da Revista Única (Expresso), Pomar concede uma entrevista, muitíssimo bem feita por Ana Soromenho, em que as razões que me levaram a admirar o homem aparecem todas – e claramente – expressas. Não a percam.
Deixo-vos aqui algumas frases soltas, por ele proferidas, e que destaquei do dito trabalho jornalístico:~

“Emprenhei sempre pelos olhos, nunca pelos ouvidos”.
“A situação de me armar em fenómeno não me agrada nada. Detesto os Dali de serviço”.
“O acaso é a matemática mais rigorosa que se oferece a cada pessoa”.

Vá...leiam a entrevista.

segunda-feira, abril 12, 2010

Às vezes o silêncio é bem mais harmónico do que uma sinfonia...

Não há nada mais difícil nesta vida do que subir a um palco e tocar
(Gabriela Canavilhas, Revista Única, 10.Abr.2010)

Descer às profundezas de uma mina e recolher minério é muito mais fácil do que subir a um palco e tocar.
Embarcar numa casca de noz e ir pescar para o alto mar é muito mais fácil do que subir a um palco e tocar.
Operar um tumor cerebral é muito mais fácil do que subir a um palco e tocar.

Há coisas que nem metaforicamente devem ser ditas, muito menos por uma Ministra da Cultura.

terça-feira, abril 06, 2010

A Pedofilia e a Igreja Católica Romana

Nota prévia: sou absolutamente arreligioso.

Os escândalos relacionados com a pedofilia têm assolado em catadupa a Igreja Católica Romana, facto que tem contribuído para que a dita confissão religiosa e os seus mais altos representantes estejam sob “fogo intenso”.
O crime de pedofilia é abominável em si mesmo, passível de condenação pesada em qualquer sociedade civilizada, e as motivações patológicas de quem o pratica não devem servir para atenuar a culpa mas apenas para que à pena aplicada se acrescente tratamento.
Os pedófilos não pertencem a nenhuma cultura, classe social, etnia ou credo religioso em particular.
Os pedófilos são transversais a todas as classificações humanas possíveis.
Não há nem mais nem menos pedófilos no universo católico do que no protestante, judaico, muçulmano, arreligioso, agnóstico ou ateu.
O problema da pedofilia praticada por sacerdotes católicos é apenas agravado do ponto de vista da sua percepção social porque a religião é matéria de fé assente em confiança. Confiança na mensagem e confiança nos seus portadores.
Um padre pedófilo é um cancro que mina a confiança dos crentes e multiplica a motivação dos seus adversários.
Por outro lado a atitude secular da Igreja Católica do silenciar por medo das consequências e do sonegar à justiça dos homens aquilo que é da Justiça dos homens só tem contribuído para a triplicação dos danos que estes escândalos lhe estão a causar.
A Igreja Católica está a esquecer que o assumir do “pecado” só vale se tal implicar o assumir das respectivas responsabilidades. Não basta pedir perdão é preciso a contrição e essa implica penitência e cumprimento de pena.
Se a Igreja Católica pretende manter a autoridade moral sobre os seus fiéis tem que se dar ao respeito, afastando do seu seio todos os pedófilos e ajudar sem reticências quer as vítimas quer os sistemas judiciais.
Se neste caso a culpa morrer solteira, embrulhada num perdão abstracto, a Igreja Católica Romana estará a um passo da sua auto-destruição.

segunda-feira, abril 05, 2010