domingo, setembro 12, 2010

Cultura, religião e conflitos

Podendo ser ou não religioso, o Homem, é, para além de biológico, fundamentalmente um ser cultural.
É o cultural que nos define enquanto seres com identidade própria e nos posiciona perante os outros e perante a comunidade.
A matriz cultural das pessoas é plurifacetada, composta por inúmeros elementos que ao longo do tempo se foram mesclando e transmitindo geracionalmente e assimilados por cada um através de um processo de aprendizagem que decorre em múltiplos contextos, em que o familiar assume particular – mas não única – importância.
As religiões condicionam e são condicionadas pela cultura. Elas enformam e informam a cultura e por ela são também informadas e enformadas, numa dinâmica que, paulatinamente e conjuntamente com outros factores, definem e caracterizam uma determinada cultura que por sua vez baliza os comportamentos dos indivíduos e dos grupos.
A influência religiosa na cultura é, por isso, importantíssima, mesmo para os indivíduos que pertencendo a um determinado grupo cultural não são particularmente religiosos ou não o são de todo.
Pegando no exemplo cristão-católico e no universo territorial em que essa religião é a mais marcante e comum, existem muitas e muitas pessoas que são ateias, agnósticas ou absolutamente arreligiosas (crentes em Deus mas descrentes em religiões, grupo em que me incluo) que apesar disso são, do ponto de vista cultural, católicas, mesmo que disso não se apercebam. São católicas nas práticas quotidianas e esse catolicismo cultural reflecte-se na forma como se relacionam com eles próprios e com os demais, na forma como trabalham e descansam, como encaram a família, na forma e no que comem, divertem, etc., etc.
Também é evidente a forma como a cultura na sua totalidade adapta a própria religião (voltando ao exemplo cristão-católico ): um católico praticante alemão é diferente de um católico praticante mediterrânico ou latino-americano.
Nesta crescente hostilidade entre cristãos e muçulmanos não são apenas credos discordantes que estão numa espécie de confronto, é muito mais do que isso: são matrizes culturais distintas que entraram numa rota de conflito. São duas formas absolutas de o Homem de ser ver a si mesmo e de ver a sociedade que estão em contenda. Enfim são duas culturas em choque.
Dentro de cada cultura existem patamares e diversos graus de evolução que quanto mais evoluídos mais disponíveis para a compreensão dos outros se tornam e isso verifica-se quer nas culturas cristãmente informadas e enformadas quer nas culturas islâmicamente informadas e enformadas. Quanto mais evoluído culturalmente é um indivíduo dotado de uma matriz cristã mais apto está para a convivência salutar com outro dotado de uma matriz cultural islâmica e vice-versa.
Por isso é que este confronto cultural é particularmente violento nos patamares mais baixos de evolução de cada cultura: quanto mais débeis são as pessoas do ponto de vista cultural mais mesquinhas e sectárias são. Os fundamentalistas (cristãos e islâmicos) são culturalmente primitivos, ignorantes, pouco disponíveis para a aprendizagem e completamente fechados para os outros.
Por isso é que o eliminar deste cancro tem que ser feito por dentro, ou seja, cabe aos cristãos culturalmente evoluídos “educarem” aqueles que partilhando a sua cultura estão ainda num estágio primitivo e o mesmo caberá aos muçulmanos culturalmente evoluídos em relação aos seus. Só assim a realidade se poderá alterar e que o ecumenismo cultural poderá acontecer.

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