segunda-feira, setembro 27, 2010

46 (QuAreNtA e SeIs)

Quarenta e seis, além de ser um número de Wedderburn-Etherington e Erdős–Woods, é o número de anos que completo hoje, o que dá 2400 semanas, 16.802 dias, , 403.248 horas, 24.194.880 minutos e 1.451.692.800 segundos. Tempo que já não me pode ser retirado e que foi vivido completamente, com dias e horas muito boas e outras muito más, mas quase todas – as boas e as más – bem sentidas. Na verdade viver para um ser humano é sentir e sentir que sente. Tal como a maior parte dos seres vivos somos entidades com comportamento, mas, ao contrário deles, temos consciência do que sentimos e porque sentimos. Também nos distinguimos dos demais seres, porque temos memória do passado, noção do presente e temos a capacidade de perspectivar o futuro. É essa consciência que faz toda a diferença.
Dias de aniversário são, por regra, dias de celebração e – de certa forma – dias de balanço. Os dias de aniversário são uma convenção que pesa. Uma convenção que faz com que os outros que nos são próximos se lembrem de nós, uma convenção que nos faz meditar sobre nós mesmos, sobre o “nosso modo, tempo e circunstâncias”.
À medida que as celebrações dos nossos aniversários se sucedem mais tendência temos para tomarmos consciência da nossa finitude e do nosso amadurecimento, para não dizer envelhecimento. Há pessoas que ficam perturbadas com isso. Eu não. Eu apenas constato tais factos.
Não é que a ideia da morte seja uma ideia completamente clarificada. Há muitas e demasiadas coisas carregadas de mistério em seu torno para que a morte me surja como algo cristalino, mas isso não faz com que a mesma me assuste. Não a temo, apenas não a desejo, embora prefira a morte a uma vida de doença e de incapacidade, mas tal situação ainda, felizmente, não se coloca. Quando e se se colocar, então e só então pensarei nisso a sério.
O certo é que me sinto confortável com e no tempo que já usufrui. De uma forma geral tenho arcado com a responsabilidade total das minhas boas e más decisões. Não tenho delegado essa responsabilidade em ninguém e tenho vivido bem com isso.
Por outro lado, à medida que vou andando, tenho procurado aprender. Cada vez gosto mais de aprender e quanto mais vou sabendo mais quero saber. Passei da fase de querer convencer para a fase de não me importar de ser convencido. Encontro hoje nos afectos que construi o meu valor mais seguro e na inquietação criativa – mas não angústia – o meu principal sopro de vida.
Sei hoje que há coisas que é preferível esquecer mas que há outras que são imperdoáveis. Mas há muitas mais que devem ser sempre lembradas e com o passar do tempo que me tocou, vou-me convencendo que viver é uma constante empreitada de obras, assente em projectos de arquitectura de requalificação de vazios urbanos. Colecciono memórias, que são as pegadas encontráveis na minha alma. Nasci instinto-intuitivo e aposto que morrerei perplexo. Quanto ao demais sou um adorador do Sol e inimigo figadal do frio... Tenho pavor da estupidez – da alheia e da própria. Percebi, atempadamente, que nem sempre há amanhã.

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