quinta-feira, julho 01, 2010

Modelo percentagem fixa e chapa cinco e o descalabro na Cultura

A grave situação económica e financeira que o País atravessa provoca uma espécie de ensandecimento político que se traduz na febre de reduzir a despesa no “modelo percentagem fixa e chapa cinco”, ou seja o corte de x% em tudo, solução errada e que acaba sempre por trazer mais prejuízos do que lucros.
A questão é fácil de perceber: imaginemos uma família normal em que a crise obriga a uma contenção de despesas. Imaginemos ainda que nessa família é decidida uma redução de 10% a todas as despesas. Resultado prático: as propinas do menino ou da menina são no valor de 100 euros por mês. A redução de 10% aplicada a esses 100 euros mensais resultam nuns 90 euros insuficientes para pagar a dita propina, ou seja, o menino ou a menina deixam de poder frequentar o estabelecimento de ensino.
Este exemplo, mais simplório do que simples, serve no entanto para ilustrar a patetice que é a aplicação da receita acima referida.
O que é preciso, antes de se proceder a qualquer corte, é eleger prioridades e estando as ditas elencadas proceder aos cortes necessários mas com inteligência e razoabilidade.
Fico sempre assustado com essas decisões porque percebo que resultam de incompetência.
O que está acontecer ao nível de dois Ministérios essenciais para o progresso do País – o da Educação e o da Cultura – é um exemplo claríssimo dessa política cega e estúpida.
O que se está a passar ao nível do Ministério da Educação é já do conhecimento geral e objecto de amplo debate público. No entanto pouco se fala no Ministério da Cultura, em que os cortes anunciados, decididos apenas mediante critérios contabilísticos, vão ter efeitos tremendos no panorama cultural português, reforçando o enorme caudal de mentiras que tem caracterizado o (des)governo Sócrates: a Cultura foi considerada pelo PS, na última campanha eleitoral, como uma das prioridades.
É evidente que a Ministra da Cultura tem especiais responsabilidades nesta situação ao ser absolutamente incapaz, em sede de discussão orçamental, em travar a sangria. Longe vão os tempos do Professor Manuel Maria Carrilho.
O que se está passar ao nível dos apoios aos museus, ao teatro, à dança, ao cinema e á música é um perfeito escândalo, para já não falar da inexistência de qualquer apoio à protecção e salvaguarda do património edificado.
Era bem melhor que a Senhora Ministra da Cultura aparecesse menos em revistas de moda, recepções e funerais de estado e dedicasse mais tempo a cumprir com as suas obrigações políticas. Se não for capaz de impor critérios diferentes para a Cultura, terá sempre a opção da decência: sair do governo.

Sem comentários:

Enviar um comentário