sábado, agosto 07, 2010

Portugueses? Brandos costumes???

A perspectiva de um “povo de brandos costumes” foi idealizada e propagandeada pelo Estado Novo. Dava jeito ao imaginário da Ditadura, ruralista e autoritária, que era, nos seus contornos essenciais, a expressão do imaginário do próprio ditador, Oliveira Salazar.
Os Portugueses, nós, nunca fomos de brandos costumes. Já não o éramos antes de sermos Portugueses.
Nunca fomos de brandos costumes, em nenhum dos costumes. Costumes colectivos e costumes individuais. Costumes políticos e costumes sociais. Costumes culturais e até mesmo nos costumes económicos.
A violência esteve, está e estará sempre presente na nossa forma de ser. Pode não ser uma violência exuberante à espanhola, mas é violência. Violência que quando explode é terrível.
Esta violência que está presente em nós pode ser encontrada na Reconquista, na Expansão. Esta violência que está presente em nós pode ser encontrada na assistência aos autos-de-fé, nos crimes passionais e por causa da propriedade, no trânsito, nas bancadas dos recintos desportivos, no assassínio de reis, príncipes e presidentes, nas revoluções, guerra civil, intentonas e em reuniões de condomínio. Esta violência que está presente em nós pode ser encontrada à porta dos tribunais de hoje da mesma forma que estava na face dos assistentes aos desmembramento dos Távoras. Esta violência que está presente em nós pode ser encontrada nos sermões sacerdotais ou monacais e nos desrespeitar dos peões nas passadeiras ou dos motociclistas nas estradas.
Só somos brandos no assumir das responsabilidades e na condenação do iníquo. Basta ver que em Portugal a culpa nunca se casa – e casando-se depressa enviúva – e os corruptos são elevados a heróis com direito a reeleição. Mas esta é uma falsa brandura, na verdade é uma violência inaudita.

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