domingo, março 27, 2011

Da recuperação da ideologia

O problema do PS e do PSD é que ambos abandonaram as respectivas matrizes iniciais e distintivas e - por causa da consolidação dos interesses das suas clientelas de natureza parasitária – tornaram-se demasiado parecidos, semelhanças que aliás e naturalmente se intensificam em ambientes de crise. Em bom rigor quase que é indiferente votar em qualquer um dos citados partidos: o modelo político-social é o mesmo, as soluções económico-financeiras são as mesmas, o encarar o País como uma espécie de coutada própria é igual. A única diferença que poderá existir na vitoria de um ou de outro, vitória que será sempre tangencial, é a possibilidade que uma vitória do PSD poderá trazer a uma aliança com o CDS e que uma vitória do PS poderá trazer a uma aliança com um dos dois partidos à sua esquerda – PCP e BE – ou com ambos. Mas essas diferenças só poderão tornar-se uma realidade se o Presidente da República o quiser, e eu estou convencido que ele quer mesmo é um Bloco Central sem Pedro Passos Coelho e sem Sócrates no Governo. É preciso que as pessoas, à direita e à esquerda, que têm propensão para votarem “útil” quer no PSD quer no PS (o voto útil só o é para quem o recebe), e que abominam a possibilidade de uma maioria parlamentar assente num Bloco Central, percebam que só evitam votando no partido à direita do PSD ou nos partidos à esquerda do PS, conforme seja a sua visão da sociedade que pretendem para Portugal. Portugal precisa de uma maioria parlamentar ampla, mas o pior que lhe poderia acontecer seria que essa mesma maioria fosse formada por quem nos conduziu ao estado em que estamos: PSD e PS. Temos um problema muito sério de finanças públicas e de economia mas esse problema só terá solução através da recuperação da questão ideológica. São as ideologias que aportam os factores distintivos da política e não a adopção de modelos meramente económicos, sem formatação ideológica, que acabam por ser todos iguais e permeáveis aos interesses exclusivamente económicos. Foi o jogo dos modelos meramente económicos que nos trouxe o status quo mundial e que transformou esta Europa numa espécie de espaço vital alemão.

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