sexta-feira, abril 22, 2011

Da crise, da ponte e da alienação social

A falta de credibilidade das instituições públicas e dos seus agentes tem efeitos devastadores em qualquer sociedade politicamente organizada e Portugal é um bom exemplo disso mesmo.


Um desses efeitos é uma desresponsabilização social, quer do ponto de vista colectivo quer do ponto de vista individual, em relação ao que se passa à nossa volta. As pessoas parece que não querem verdadeiramente saber.


Vejamos, em concreto, esta “ponte alargada” e os principais destinos de férias todos esgotados. É imoral que as pessoas tenham procedido “como habitualmente” quando vivemos momentos de excepcional gravidade. Não há pudor, um pudor que deveria ter levado as pessoas a serem contidas, a darem um sinal aos outros e a elas mesmo que algo de muito grave se está a passar: o País faliu, que é mesmo que dizer que estamos todos falidos. Mesmo aquelas pessoas, que por terem mais posses que as demais, ainda não sentiram os efeitos da crise, tinham a obrigação de procederem de forma diversa do “como habitualmente”.


Quantas destas minis férias não representam um acréscimo de endividamento para a maior parte das famílias? Estou convencido que representa isso para a maioria das famílias que esgotaram os hotéis e os aviões nestes dias.


As pessoas iludem-se, vivem como se vivessem uma espécie de últimos dias, como se não houvesse amanhã. Mas existe amanhã, um amanhã de sacrifícios e uma amanhã para pagar dívidas que cada vez são mais.
Esta alienação social é perigosíssima. Este “estado de negação” é socialmente patológico e é, em simultâneo, sintoma e causa. Sintoma do profundo mal que sofre a sociedade portuguesa e causa de um traumatismo social que não tardará a emergir.


Eu nada tenho contra férias, mini-férias e períodos de lazer. Provavelmente até disponho de meios económicos superiores a grande parte das pessoas que “partiram para férias”, mas apesar disso resolvi ficar por “casa” e trabalhar como “habitualmente”. Resolvi fazer isso porque o País precisa disso. Precisa de pequenos esforços de cada um, de pequenos sinais de cada um, para que a realidade se altere. Temos que perceber que para sairmos do buraco em que estamos metidos só poderemos contar connosco: com o nosso trabalho, com o nosso sacrifício e com a nossa determinação.


Temos tido lideranças fracas, sem qualquer tipo de ideia ou autoridade. Temos que ser superior a elas e a isso. Temos que nos superar. Temos que dar o exemplo.

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