domingo, março 13, 2011

A lição do dia de ontem

Portugal é cada vez mais uma Nação enquadrada por um Estado falhado. Um Estado falhado porque não consegue que as suas principais instituições – instituições legislativas, instituições governativas, instituições de justiça, instituições partidárias e instituições de representação laboral e empresarial – sejam sentidas pela maioria da população como socialmente úteis.
Esse sentimento de inutilidade social em relação às instituições advém da percepção, mais ou menos nítida, por parte do Povo que as mesmas funcionam mal ou pura e simplesmente não funcionam porque se tornaram incapazes de corresponder com eficácia às distintas solicitações e questões que lhes são colocadas.
Se a responsabilidade de alterar esta staus quo deve ser partilhada por toda a sociedade é, no entanto, evidente que os mais responsáveis são os membros da classe política, ou seja aqueles que exercem o poder em representação e por delegação do Povo.
O que está a acontecer é que a principal virtude exigida ao serviço público – à sua concepção e exercício – quase desapareceu. Refiro-me, obviamente, à decência*.
Sem decência na definição das políticas e sem decência nos agentes políticos não há justiça. A justiça colectiva e particular é filha dilecta da decência. É a decência que impede a injustiça. Sem justiça não há liberdade, o que significa que uma exigência de liberdade não pode ser separada, em termos de reivindicação cívica, de uma exigência de decência.
O que todos escutamos ontem por parte dos manifestantes de todas as idades, por mais distintas que tenham sido as palavras de ordem, partilhavam todas a mesma exigência: decência. Só pessoas decentes é que percebem que todos têm o direito a uma vida decente e que é uma verdadeira indecência o Estado, os seus agentes e as suas políticas, não serem nem parecerem decentes e não pugnarem por essa mesma decência.
Quando a política e os políticos se perspectivarem em prol da decência o Povo não deixará de se sacrificar e de contribuir. É essa a lição essencial que a “política” deve retirar do dia de ontem.
* não confundir com Moral.

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